segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

como temporal

Há algumas semanas começaram as chuvas na cidade mais alemã do país. Chuvas que nunca tinha visto aqui ou acolá. O céu fica negro, meio acinzentado, e as nuvens correm como maratonistas. É impressionante a rapidez que um temporal se forma por aqui, e mais impressionante ainda, é como ele é belo e ao mesmo tempo tão ameaçador. Aos poucos escurece, a chuva começa devagar, e em segundos, pronto, estaá feita a tragédia. Água em meio metro, casas alagadas, ruas sem passagem. Minha primeira cobertura de enchentes foi uma experiência única, pra levar pra vida inteira. O desespero, os rostos tristes, a solidariedade e depois, o sorriso amarelo de quem tenta continuar, e continuar, e continuar.
Excepcionalmente hoje, o dia amanheceu cinza, como meu coração. Quando o dia começa assim, certamente termina com um temporal, dentro e fora do quarto bagunçado, cheio de quitutes e algumas malas para desfazer. Na sacada, é gostoso ouvir o barulho da chuva, lendo algum título que me faz pensar na vida, na morte, no sentido de tudo. Na sacada, que dá para os fundos de um terreno que nao tem quase nada, a não ser o cheiro de churrasco e o barulho de piscina aos domingos, eu gosto de sentar e ver o temporal atingir o telhado da garagem. Os raios, a trovoada, o vento gelado que arrepia a alma. gosto de molhar o pé, de esticar a mão e deixar que a chuva molhe um pouco meu corpo.
Queria entender porque gosto tanto assim de chuvas, aqui já comprovei que ela não traz tanta alegria como me convém. Queria entender porque mandam essa chuva quando quero lavar minha alma, e como enquanto ela cai, meu coração se enche de uma paz tamanha, que tenho vontade apenas de olhar para o horizonte e sentir seu barulho devagar e devagarinho ver ela escorrer por onde passa. Queria que ela passasse pelo meu peito, deslizasse por minha alma e revigorasse meus sonhos. E não só meus, mas de todos que estão do lado de fora, temendo que a chuva leve mais que os sonhos, amedrontados com razão, porque a chuva não me da mais tanta alegria, já penso nela com medo, pavor. Ah chuva, signifique o que significar, caia lentamente, escorra pelas paredes e não adentre casas e ruas. Caia aos poucos e só molhe de paz a minha, e a alma de todos os outros que por cá estão.
'oh chuva, eu peço que caia devagar, só molhe esse corpo de alegria, para nunca mais chorar"

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