domingo, 29 de agosto de 2010

é estranho, afinal.
é diferente, então.
e o que era pra sempre foi-se embora como qualquer outra coisa, nesse vai e vem de tantas outras.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Lucas


Lucas Raduenz, seis anos, acorda todos os dias de manhã cedinho, veste o uniforme e na carona no carro com a mãe, vai até a escola. Como todo aluno, prefere muito mais a diversão de brincar com bolas que as aulas teóricas. Ao meio dia retorna para casa, e segue com atividades complementares todas as tardes, desenvolvendo suas habilidades motoras, intelectuais e sociológicas.

Kate Regina Bruch Raduenz se reveza entre cuidar da casa e do pequeno filho. De manhã o leva para a escola, à tarde para as atividades ocupacionais. Sempre sorridente, é admirada pela maioria das outras mães sempre que chega ao colégio, afinal, há tantos motivos assim, na vida de qualquer pessoa, para sorrir? Segundo Kate, sim. E são vários.

Quando Lucas nasceu, há seis anos, veio de uma gravidez altamente planejada. “Desejávamos muito a criança. O primeiro presente que o pai dele deu, foi um sapatinho do Flamengo, já imaginando os primeiros chutes, lá pelos dois anos”.

Bom, aos quatro meses, a notícia que mudaria tudo então chegou. Lucas teria algum tipo de limitação, que seria descoberta quase um ano depois, quando o mesmo já tinha um ano e alguns meses. A Síndrome de Arnold Chiari (tipo 01) só apareceu depois de uma tomografia computadorizada, mas nada que impedisse o menino de ter uma vida como a dos demais da mesma idade que ele.

“Sabemos das limitações, mas desde pequeno ele é acompanhado por profissionais que estimulam o desenvolvimento dele”. Hoje, como todas as crianças consideradas ‘normais’, Lucas frequenta uma escola regular da cidade, à tarde, no contra turno, diferente dos que jogam bola, fazem aulas de inglês ou outras atividades, ele vai a APAE de Pomerode receber atenção mais especial do que a recebida na escola, através de profissionais qualificados, prontos para atender todas as necessidades do garoto.

Sem lágrimas ou lamentações, Kate admira cada pequena vitória de Lucas, “desde o primeiro passo que ele deu, no dia 16 de janeiro, até o dia em que ele conseguir falar, são os pequenos gestos que lá em casa comemoramos muito. Na escada, por exemplo, eu fico em baixo e o pai do Lucas em cima, estimulando para que cada degrau que ele suba, seja uma conquista, assim como vai ser na vida dele”.

A primeira bola que Lucas chutou com o pai não foi aos dois anos, como o desejado. Mas, assim como todas as crianças como ele, que têm limitações visíveis aos olhos, (muitas vezes pré-conceituosos) demorem um pouco mais para realizarem velhos sonhos. O pequeno já bate bola com o pai, e bate bola desde seus quatro anos. “Quer ver o Lucas feliz é dar uma bola para ele, e não importa se são baratas ou caras. O que importa na verdade é a bola, não a marca, não o valor do presente”.

O sorriso no olhar de Lucas foi visível no momento em que encontrou a mãe na sala em que a conversa acontecia. Foi como se enfim, encontrasse novamente seu porto. “Ele adora vim para cá, fica ansioso. Mas quando vê o carro na hora em que venho para busca-lo, ele já vem comigo. Se tenho que acertar alguma coisa na secretaria, já peço para as professoras não deixarem ele me ver, porque se me enxerga, já quer vim comigo”. Kate também contou que quando chega à sua casa, a espera continua dessa vez pelo pai. “Quando escuta o barulho do carro, já olha e solta: ‘papai’, é emocionante!”.

Talvez nos primeiros dias, após a descoberta da síndrome a mãe pensasse como seria se Lucas fosse uma criança sem limitações. “Há cinco anos, sim, hoje não. Ele me trás muito mais felicidade do que talvez uma criança normal me trouxesse. Para nós, tudo é motivo de comemoração. Um sorriso, um abraço, um carinho dele é motivo de festa na família. Teríamos condições de dar tudo a uma criança normal, mas temos condições de dar a uma especial como é o Lucas, e pode ser que ele tenha chegado em nossas vidas para mudar a nossa. Sempre me perguntava o ‘porquê’, hoje, a pergunta que gosto de pensar é ‘pra que’, e as respostas são muitas, guardadas comigo ou contadas por aí”.

Ser feliz para deixar Lucas feliz é a regra da casa. Guardar muitas tristezas, até na hora da doença ou dificuldades diárias esconder o mau humor e revertê-lo com um sorriso de boca a boca é a solução que muitos deveriam adotar para a rotina.

“As mães me perguntam como consigo ser sempre tão feliz com ele. Algumas até falam: ‘você sempre está sorrindo quando vem com o Luquinhas nos braços’. Diferente delas, eu vibro com todas as conquistas dele, não apenas com o dez no boletim, eu aprendi a comemorar quando ele bate palmas, quando da um passo. Não preciso presentear ele com brinquedos de R$500 reais para mostrar o quanto gosto dele, e tento passar isso para elas”.

A vida deles não é como a de todos, tem limitações, mas nos finais de semana, durante os momentos de lazer, Lucas joga bola, sai passear, sobe até em árvore “coloco ele nos meus braços e subimos junto na jabuticabeira”.

O sonho do pai de bater bola com o filhão, também não saiu de cena. Lucas é completamente apaixonado por isso e a realização de um pai, ao torcer com o filho vendo um jogo de futebol, do time que passou de geração para geração, é igual em qualquer família, até na de Lucas. Na escola, o garoto tem aulas de alemão, robótica, português, como qualquer outra criança. Calmo, não revida brigas, e não suporta a ideia de discussões. Carinhoso, ganha cafuné de todos que estão ao seu redor. Suas limitações podem até ser aparentes, mas o sorriso que sempre estampa seu rosto é impagável, indescritível, inenarrável.

“A neurologista sempre fala: Kate, o que você achar normal? Alguém saber falar, andar, correr. Alguém não saber memorizar verbos, não aprender matemática, ter limitações. Afinal, o que é normal?”. Afinal leitor, o que é normal?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Seu Chico. Dona Maria


História real, embalada com um pequeno ‘dacim’ de fantasia.

As velhas paredes não eram apenas quatro, talvez fossem dez ou onze. De janelas a casa estava cheia, e as duas alas separavam não raças, nem cores, muito menos ideologias, separavam apenas homens de mulheres. Dona Maria, vestido florido, amigas ao redor, sempre sonhara em outro tipo de vestido, o velho rendado, laçado com fita de cetim, trançado com pequenos bordados feitos a mão. O maior sonho foi morrendo no mesmo tempo em que as rugas apareciam com mais frequência. Seu Chico, barba feita, camisa xadrez sempre por dentro da calça social, bem passada, feito homem de boa índole, de bom caráter, de criação familiar decente. Seu Chico, Dona Maria, divididos por uma cortina que lembrava uma velha saia que Maria mesmo costurou na infância. Da janela do quarto, certo dia então Chico resolveu ver a vida passar. A vida passou anos do mesmo ângulo. As roupas não estavam mais passadas nem a gola engomada. Já Maria, depois de viver para os outros, acabou sozinha, passeando pelo quintal, vendo as flores nascerem na primavera e morrerem no outono, diante das primeiras geadas que antecedem o inverno. Da mesma janela, feito criança, ele se apaixonou pela donzela que trafegava de vestido florido, comprido até o pé, passeando no meio do jardim, olhando com sorriso de canto de boca as flores que nasciam ainda timidamente. Ela, de olhar quase sorrindo viu o amor dos sonhos chegar naquele bom dia animado, que demorara mais de um ano para acontecer.
Um ano demorou para que o vestido fitado virasse realidade. E virou em uma festa que alegrou o coração dos vizinhos, que presenciaram juntos, ao pé do altar, o primeiro beijo dos pombinhos loucamente apaixonados, um pelo sorriso, a outra pelo olhar. A festa durou a tarde toda, e no fim da noite, na noite de núpcias, o sonho do primeiro casamento era a calmaria que trouxe a lua cair mais bonita. O sonho era de ambos, o primeiro casamento também.

A verdadeira história é de um casal idoso que se encontrou em um asilo local. Ela e ele, oriundos do sonho do casamento eterno, nunca (até então) chegaram ao altar e abandonados por todos os outros, acabaram na casa separada por alas. Ele não tinha uma perna, vitima de acidente, e esperava na janela porque não podia passear no jardim, a vergonha não deixava. Apaixonados, realizaram o sonho juntos, e ao altar subiram há algum tempo. Sabe-se lá porque, mas essa é uma história que me lembrou uma antiga canção, e que de uma hora para a outra, me fez refletir sobre o amor, e sobre o poder dele na nossa vida. Quem dera eu encontre um Chico pra mim, e que ele seja tão eterno quanto as lembranças dele no meu coração.

“Eu encontrei, quando não quis, mais procurar, o meu amor.... E até quem me vê, lendo o jornal, ou , na fila do pão, sabe que eu te encontrei e ninguém dirá QUE É TARDE DEMAIS”. (Último Romance- Los Hermanos)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"Plágio"

Li essa crônica hoje cedo, e simplismente adorei!
Créditos para Maurício Amaral, autor do texto...

Zero Hora convidou os integrantes do programa Pretinho Básico, da Rede Atlântida, para contar qual a imagem que eles têm do frio. Pode ser uma lembrança de infância, um filme, um livro, um período de férias. Até o próximo domingo, durante a última semana de férias de inverno, eles vão esquentar este espaço com suas impressões. O terceiro da série é o Maurício Amaral: Eo frio hein?! – Amor, a nossa relação esfriou! – Bah, o cara só me mete em fria. – Essa notas são frias, não valem nada. – Paulinho, come logo antes que a comida esfrie! – Não vai lá que é fria. – Sei lá, ela me tratou de um jeito frio… – O assassino era frio e calculista. Inconscientemente somos levados a crer que frio significa coisas negativas. Até as temperaturas no inverno são negativas. (dããã) Ok, vou procurar evitar as piadinhas infâmes aqui em Zero Hora… Mas o frio pode ser bom. O brabo é provar isso. Somos dois ou três Estados atingidos por frio de verdade, contra toda uma nação tropical que nunca ouviu falar em luva, touca e cachecol! Frio é ausência de calor. Mas peraí, o calor não pode ser a ausência de frio? Não, diriam os físicos. Inclusive para a Física, o frio não existe! Não existe uma definição de frio, assim como existe uma definição para calor. O frio é uma sensação. Viu só, o frio é psicológico! Por falar em sensação, tô começando a me irritar com esse papo de sensação térmica. Agora é moda falar que a temperatura é de 13 graus, mas a sensação térmica é de menos 40! Ora, por favor, se é uma sensação, não pode ser generalizada. Cada um sente de uma maneira. Em um casal por exemplo, sempre tem aquele que sente mais frio, que dorme de calça, meia, blusa, casaco, luva e touca, e o homem, que no máximo bota uma camiseta pra dormir, de preferência aquela das eleições de 1982, muito confortável. A sensação térmica é uma percepção e, sendo uma percepção, ela possui diferentes considerações. Um baiano vai ter uma maior sensação de frio nos dois ou três dias que ele passa em Gramado do que o gaúcho que já está acostumado com o frio a Serra! Então, por favor amigos da previsão do tempo, facilitem as nossas vidas e nos passem apenas a temperatura que o termômetro mostra. Se tá 13 graus, digam município tal, temperatura 13 graus neste momento, e deixe que cada um tenha a sua sensação térmica. Sensação térmica é que nem…, que nem…, que nem…, que nem buuuuuchecha, cada um tem a sua. Inverno é bom pra se vestir bem, caprichar naquele casacão de lã, comprado em 10 vezes no carnê, que só vai terminar de pagar em fevereiro do ano que vem, quando os termômetros vão estar na casa dos 40 graus e o casaco vai estar lá no fundo do armário pegando aquele cheirinho bom… Bom para sair em dia de chuva e parecer um lutador de esgrima com o guarda-chuva tentando não se molhar por causa da chuva que vem em 300 direções por causa do vento! Sem contar os sem-noção que insistem em dar com a ponta do guarda-chuva bem na tua testa… Inverno é bom pra queimar a língua com aquele chocolate quente que a gente toma num gole só. Ou quase vomitar com aquele café frio que a térmica insiste em não conservar quente… É bom para estreitar amizade com os atendentes de farmácia. Sim, já que você vai dar uma passadinha lá, dia sim, dia não, para comprar medicamentos contra gripes, resfriados… Inverno é bom sim, deixa de ser ranzinza! mauricio.amaral@rbsradio.com.br MAURÍCIO AMARAL