quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Chuvim


Se o senhor que fica parado no ponto de ônibus que passo todo dia fosse escrever uma crônica sobre minhas passagens diárias por ali, certamente a de hoje ganharia destaque. Enquanto ele estava sentadim, protegido da forte chuva que caia no doce Vale que me abriga, observava os pingos caindo, debruçado no velho 'paieiro' que deixa um cheiro forte por toda a quadra, eu passava em disparada. Mas a história toda começou há umas quatro quadras dali, quando a chuva começara a cair e eu, sem guarda-chuvas, só senti as gotas finas molharem meu cabelo. a sensação não estava boa, confesso, aquilo estava me deixando com frio e com muita vontade de chorar, talvez de raiva, ou de cansaço, quem sabe ainda de medo dos próximos passos.

Segui ao som de buzinhas que riam da 'menina' sendo aos poucos molhada por inteiro. Quando cheguei perto do ponto, então, resolvi correr, correr como há muito tempo não corria, em disparada, como fazia quando criança. Sorri, e sorri sem parar. Corri até a garganta secar de cansaço, e foi quando comecei a andar e ao olhar para o céu, com os pingos mais fortes caindo, abri a boca, estiquei a lingua e voltei a sentir o sabor da chuva, e ai então, cai na gargalhada. Foi como reviver uma infância que me fazia muito bem...Como se fosse obra divina, os pingos caiam mais forte, e já estavam se transformando em pequenas pedras, a gargalhada saiu alta na rua que não passava ninguém, exceto os carros. Tirei os sapatos, e corri ainda mais, com a boca voltada ao céu, o coração liberando uma sensação maravilhosa de liberdade e um riso que, sinceramente, fazia tempo que não saía.Enxarcada, ainda consegui pular em algumas poças d'água antes de chegar em casa. Rindo, sem parar, fui para o chuveiro, e aquela água quente então encheu meu coração de saudade. Continuei a cantarolar besteirolas, sonhar velhos desejos, e agora estou cá, de alma lavada, coraçao leve e sensação de que tudo de ruim ficou ali fora, junto com as outras gotas que rolaram pelo asfalto"

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